É BEM ASSIM NOS BASTIDORES...

08/11/2020
Divulgação: internet
Divulgação: internet

Por: Piink

Mulher é um ser extremamente vulnerável. Não dizemos isso no sentido de ser frágil, porque se tem uma coisa que a gente é, é forte. Não forte em alguns termos, forte de verdade. Mesmo assim, somos obrigadas a passar por cada situação, que os deuses duvidam. Não vou falar apenas sobre situações vividas por mim, mas também sobre coisas que presenciei ou tive conhecimento.

Pois bem, vim contar um pouco para vocês (meninas e meninos), sobre alguns acontecimentos dos bastidores do hip hop. Sobre o que muitas mulheres passam longe dos palcos, das redes sociais, do público. Mas eu não vim falar mal da minha cultura. Estou aqui apenas para relatar alguns fatos. Fatos estes que, com certeza acontece em qualquer meio. No entanto, vou falar do hip hop, porque é o meio onde eu vivo, e por isso, posso falar com propriedade. Vamos lá.

Faço parte do movimento hip hop há 19 anos (sim, desde criança), mas passei a conviver nos bastidores, em 2013. De lá para cá fiz muitos amigos (e algumas amigas). Por ser uma cultura de maioria masculina, a maior parte das amizades foi com homens. Pois bem, até aí tudo certo, o que não é nada certo é o jeito que muitos homens tratam as mulheres nos bastidores.

Dançarinas, cantoras, DJs, produtoras, todas já foram submetidas ao tão conhecido (e abominável) assédio. Certa vez, quando eu ainda cantava, um produtor musical (de um conhecido grupo rapper de Brasília), me propôs a gravação de um CD, mas em troca, nós teríamos que ter um caso. Outra vez, um produtor artístico se ofereceu para me agenciar, mas em troca...

Já presenciei alguns caras convidarem uma mulher para participar de suas músicas, apenas pela beleza. Eles sequer levaram em consideração o conteúdo profissional dela. E se vocês acham que para por aí, enganam-se. Toda vez que eu ia ao estúdio para gravar, ou quando ia fazer shows presenciava os artistas falando de mulher como se fossem objeto, um pedaço de carne. Eu ficava muito indignada e ao mesmo tempo constrangida com aquilo tudo, mas o que eu iria fazer? Na época, ainda não tinha me descoberto feminista, então, apenas me calava furiosa.

E não fiquem aí achando que hoje é diferente. Ainda acontecem coisas desse tipo nos eventos a qual presto serviço, ou até aqueles pelos quais frequento por diversão. Tem um colega que vive me convidando para fazer parte da equipe dele, mas toda vez que ele toca no assunto, ele me chama para o motel. Eu levo na "brincadeira", porque INFELIZMENTE, faço alguns trabalhos para ele e, além disso, não dá para ter voz sempre, infelizmente.

É para existir isso? Claro que NÃO! Principalmente porque o hip hop já é uma cultura marginalizada, e respectivamente, a mais discriminada. Mas isso não tem a ver com a cultura, tem a ver com a sexualização e objetificação que os machos fazem da figura feminina. Isso existe em todo lugar, e só nós mulheres sabemos o quanto é desconfortável ser tratada dessa forma. E como eu falei no início, só estou contando alguns fatos do hip hop, porque é onde tenho propriedade, mas tenho certeza que isso acontece em todos os meios, todas as cultuas.

Mas diante disso tudo, precisamos ter em mente que não devemos nos calar. Somos tão eficientes quanto qualquer macho. Somos fortes e empoderadas, auto suficientes. Não devemos admitir nenhum macho achar que pode falar ou fazer o que quiser com nosso corpo. Precisamos nos impor, mostrar que entendemos nosso valor, que somos incríveis e não precisamos da aprovação deles para nos sentirmos úteis. Sejamos donas dos nossos próprios bastidores. 

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